quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Alado



Segue correndo, moleque
Corre ligeiro, te apresse
Que a vida se pega na unha, moleque
Que a vida não exige breque
De menino assim, feito tu
De alma simples, pés nus
E corpo magrinho
Maciço.
Então, sebo nos cambitos
Voa, isso!
Que asfalto queima, areia ferve
Mas teu pé tem junta de liga leve
e quase não toca o chão inerte:
plana baixinho sem topar espinho
pedra pontuda, caco de vidro
desilusão e tristeza.
Ê, moleque, que proeza!
que beleza esse teu pé de foguete
de asa de beija-flor, pé-de-vento
mudando paisagem em dois tempos:
Bagunçando com gosto as beirinhas da praia
Ventania da boa pra levantar saia
E poeira embaçando a visão da menina
Que nem chega a ver quem some na esquina
E nem atina
Que tinha asas nos pés que passaram zunindo
E que dentro do moleque todo dia é domingo
Cheio de importâncias por fazer:
Comer a vida no miolo da goiaba catada
Empinar vida de papel-seda
O mais alto que dê.


Noite alta já, moleque se deita
Guarda as asinhas de pé
numa garrafa com rolha
e sorri porque vai ter amanhã
(arvorinha cheia de escolhas)
e o cheiro conhecido
de domingo novo
verde em folha.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Respostas







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(a algumas páginas d'O Livro das Perguntas, de Pablo Neruda)